segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Ilhabela & Mais uma história de vida

São Paulo, 7 de Janeiro de 2013.


Meu ipad e a internet são bons amigos de noites sem sono, assim como um bom livro. Depois de todos os afazeres de um dia normal costumo deitar e navegar a esmo, primeiro clicando no globosporte.com em busca de notícias do meu vascão, as vezes releio também meu próprio blog... rindo um pouco principalmente do início desta empreita, e várias vezes fecho a noite com leituras de outros blogs com histórias de outros viajantes - grande fonte de inspiração. É como um ritual de todas as noites, sendo um ótimo remédio para pegar no sono.  E quanto mais eu leio e navego, mais descubro.

E você sabia também que tem um monte de gente neste exato momento dando volta ao mundo por aí embarcado em pequenos veleiros, solteiros, casados, jovens, aposentados, com um, dois, três filhos? Quanto mais leio, mas percebo o quanto somos uma gota no oceano. E nessas leituras, descobri uma história fascinante que quero compartilhar por aqui.

O nome do protagonista é Sergio – mesmo nome do meu pai. Também barbudo com pele queimada de sol e dois filhos – Jonas e Carol. O cara sempre velejou e sempre planejou viver em um barco e rodar mundo a fora com a  família. Planejou e sonhou este sonho em parceria com sua esposa. 

Chegaram a soltar parte das amarras se mudando de SP para Ilhabela. Até que veio um vendaval e sacudiu de forma repentina sua vida virando tudo de cabeça pra baixo: de uma doença repentina sua esposa faleceu, deixando-o com os dois filhos pequenos (6 e 7 anos na época).

Mas ele manteve o prumo mesmo meio de “cabeça para baixo” - e retomou seus sonhos e seus planos alguns anos a frente.  Quando os molequinhos estavam com 11 e 10 anos ele decidiu se lançar ao mar com os dois mundo a fora.  Moraram pela costa do Brasil indo até o Caribe para 1 ano e meio depois voltar para Ilhabela. Não satisfeitos, fizeram upgrade de barco, reabasteceram e foram de novo, só que desta vez indo um pouco mais longe, indo pelo Brasil e Caribe até um "bate-volta" cruzando o Atlântico até Europa por quase dois anos. Só os três: pai e filhos - três grandes amigos. Eles retornaram em fevereiro de 2012 para o Brasil.



Achei tão inspiradora esta história que decidi mandar um email para ele. E de alma aberta ele me respondeu e me convidou para dar um pulo lá na Ilhabela para conhecê-los. E assim o fiz.

Passamos uma noite de papo astral regado a pizza, e eu com meu “interrogatório” curioso para perguntar sobre os detalhes da viagem e, principalmente, sobre os bastidores da vida deles.  Foi como conhecer os protagonistas de um bom livro...ou os protagonistas de uma história real de vida. 

Almas boas, puras – que poderiam ter desistido depois que a vida os sacudiu. Mas não, fizeram ao contrário. Se fortaleceram, tiraram lições, seguiram adiante,  seguiram seus sonhos..  e viveram muito, cada dia um dia bem vivido. De sorriso largo e almas contagiantes reconhecem através dos detalhes os reais valores da vida. Muito legal! Lição de vida.

Acordei sábado bem cedo, com a história deles na cabeça para logo depois empacotar minha bagagem e seguir com minha Cavala para balsa de volta para SP. Com muita música boa nos ouvidos, e estrada limpa, a Cavala galopou firme, curva a curva... dando asas para meus sonhos vagarem alto. 

"Minha hora vai chegar...", idealizei. 

Vou parar por aqui.. pois mais detalhes desta história estão a um simples clique seu...



-------
Sérgio, Jonas e Carol,
Obrigado por me receberem e compartilharem suas histórias. Foi bastante significativo pra mim. A história de vocês é bem mais do que uma viagem em um barco, mas sim uma grande lição de vida, fonte de inspiração e grande lição de família e amizade. Obrigado! 

-------

E vamos as poucas fotos que tirei...


Empada de shitake no Ponto das Letras - Perfeita !


quem sabe um dia...



Na balsa de volta para SP



sábado, 5 de janeiro de 2013

SP Boatshow 2012

São Paulo, 5 de janeiro de 2013

O sonho de morar a bordo.. e dar a volta ao mundo eu tenho desde o tempo de infância  Mas quando jovem sobrava tempo, mas faltava dinheiro (mal tinha dinheiro para colocar gasolina no meu velho carmanguia).  Depois de velho a coisa tende a querer inverter. O dinheiro começa a pintar (não o suficiente !!!)..  mas o tempo desaparece. E some a isso que nossas raízes se aprofundam..  dado esposas e filhos.

Na primeira vez que falei a respeito de morar em um veleiro com meu filho mais velho (o Lucca de 4 anos), o diálogo parecia coisa de livro de história: “Filho, vamos morar em um barco e dar a volta ao mundo?” perguntei. “Quero não, papai. Não vai dar para levar os meus brinquedos...”, disse ele.

Minha esposa então nem se fala.  Sempre foi muito parceira e aventureira mas essa ideia sempre soou muito distante e bizarra pra ela.

Logo o sonho estava engavetado, sem luz no fim do túnel. "Como vou convencer minha familia a abraçar esta ideia?!", refletia.

E como acredito que o universo conspira a favor dos nossos sonhos.. a oportunidade de mudar isso aconteceu de forma natural, sem pressão. Foi um passo simples, sutil, que poderia passar despercebido para muitos, mas que para mim representou um grande avanço. Aconteceu no meio do ano passado, em uma feira de barcos aqui em SP. Vou te contar como foi. 

Lá fomos nós 4, dia bonito de sol, passear pela feira e olhar os barcos. Chegamos cedo, nos primeiros minutos de feira, ainda vazia, tranquila. E para minha alegria lá estava o Beneteau Oceanis 48 – lançamento, zerado, novinho, amplo, espaçoso, arejado, claro, espetáculo, barco dos sonhos..  sendo impossível colocar defeito.

Esperamos nossa vez, tiramos os sapatos e entramos no bichão. Meus dois moleques em segundos correram todo o convés, pularam em todas as camas, correndo para lá e para cá se divertindo -  enquanto minha esposa corria os olhos por cada detalhe.. cada quina de mesa, cada “janelinha”.. olhando espelhos, armários, namorando o box do banheiro (isso mesmo, o banheiro tinha box!)

Foi questão de segundos para minha apreensão se transformar em tranquilidade tal quando ouvi duas frases: “...caramba, neste aqui eu adoraria morar mundo afora!”, disse ela.. e os dois pequenos emendaram sem entender direito tal importância do que diziam..  “...isso papai, vamos morar em um barco!”. Quase gritei “gooolll”  ! Pronto! O sonho também esta plantado neles.

Só que como tudo na vida tem dois lados. E como efeito colateral criei outros dois problemas. O primeiro:  minha esposa cravou este bichão de 48 pés como objeto dos sonhos – padrão de qualidade - ..e este bichão custa uma fortuna, fora do alcance. Vou ter que bolar alguma estratégia para adaptá-la a nossa realidade (ou eu ficar rico até lá).   ..calma, um problema por vez!

Meu segundo problema: meus 2 filhos passaram a semana falando para os amiguinhos da escola e para nossos vizinhos que eles vão morar em um barco. E minha esposa ia logo atrás desdizendo eles .. e cobrando deles quem guardem segredo – “...não conta filho, isso é segredo..  se você contar pra todo mundo, este sonho não acontece!” .  E será que criança de 3 e 4 anos sabe guardar segredo ?




Oceanis 48 - 4
Objeto do desejo - Beneteau Oceanis 48 pés - 2012

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Metas para 2013 e 2014

São Paulo, 2 de Janeiro de 2013

Encerrado o ano de 2012, ficou no retrovisor a lembrança da bela aventura de moto pela América do Sul (se você não leu, veja aqui: http://minha-moto-e-eu.blogspot.com.br/2012/01/inicio.html). Que ano fantástico ! Não somente pela grande viagem, mas principalmente por todo esforço de preparação e aprendizado realizado ao longo de todo o ano.

Encerramos este projeto saudoso e feliz. E apesar de ter incorporado a moto no dia-a-dia, não será no mundo sob duas rodas que iremos focar os esforços nos próximos anos.

Decidimos trocar as estradas pelo mar. A moto, por um veleiro. E aprofundar de novo em um universo hoje desconhecido e desafiador. Pois a busca é justamente esta... subir outro grande degrau e forçar novamente a quebrar hábitos e incorporar novos conhecimentos e aprendizados.

E assim como a moto estava distante do nosso "universo" no início do ano passado, tão longe está também o mundo náutico e seus meandros. E com muita pouca experiência, sem as habilitações necessárias, sem o barco, sem os equipamentos e acessórios...   cravamos aqui nossas metas de curto e médio prazo:

  • Meta para 2013: Comprar um barco, marinizar família, ensinar filhos a nadar, tirar habilitações de arrais e mestre, fazer pequenas travessias entre SP e RJ, tirar férias a bordo, virar o ano a bordo, velejar, velejar, velejar.. acumulando milhas náuticas, e me embreinhar no meio de navegadores e circunavegadores experientes;
  • Meta para 2014: Tirar carteira de capitão e subir a costa brasileira de São Paulo até Salvador. Vender nossa casa, carro, etc..   organizando nossa vida financeira para partida. Velejar, velejar, velejar....    e em paralelo alfabetizar meus filhos, e fazer com que eles aprendam a falar inglês.. e aprofundar pesquisa do barco no exterior para dar o tiro até fim do ano.
  • Abril/2015: Cortar as amarras em definitivo!!

Acompanhem !!


PS (atualizado em abril/16): ...a ideia original era sair em 2015, mas o destino acabou nos empurrando um ano à frente e cortamos as amarras em 30/jun/2016.  Acabamos também não subindo a costa brasileira, mas sim comprando o barco direto no Caribe e iniciando nossa viagem a partir de lá.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Início

São Paulo, 1 de Janeiro de 2013.

O mais difícil é dar o passo e cortar as amarras. Não as do barco, mas sim a dos nossos hábitos e valores há tanto enraizados na cidade grande e na vida profissional.

Quando eu era moleque, rodava acampando de mochila Brasil afora e sempre via no mar objeto de desejo, sonho de “consumo” – talvez uma opção de vida. Mas verdade é que nessa época o sonho era distante quase utópico, dado o rumo natural da vida.

Estudei, me formei, comecei a trabalhar cedo.. e quando pisquei já estava preso dentro da "gaiola dos ratos" correndo como louco, egoísta, focado na carreira corporativa. Os anos passaram, bons anos - não posso reclamar. 

Em 2002 conheci minha alma gêmea, a Raquel. Crescemos no mesmo bairro em Niterói, estudamos na mesma escola, tivemos o mesmo professor de violão, estudamos no mesmo curso de inglês, mas foi em Itacaré, na Bahia onde fomos nos conhecer. Ela ficou doida pra dançar forró comigo logo de primeira - ela nega, mas eu acredito :)). A vida da gente é curiosa, cheio de curvas e bifurcações que um dia talvez a gente venha a entender.

Em 2004 casamos e nos mudamos para São Paulo onde tivemos dois lindos filhos - Lucca e Bruno. Vascaínos como eu. É...  não podemos reclamar da vida. 

Ela também sempre teve espírito livre e desejo de conhecer o mundo. E em um dado momento, meio que por acaso, o sonho de buscar uma vida simples e se mudar para o mar deixou de ser meu... e virou nosso.

E falando sobre sonhos....

Tenho comigo há muito tempo uma planilha que chamo de “Projeto 10 Anos” - na capa dela, tenho a foto do Dalai Lama que recebi do meu irmão - meu grande amigo. "Pensei em você", disse ele. Tudo a ver comigo na época dado o caminho corporativo-encarreirado que estava trilhando, completamente preso na corrida corporativa.

Nesta planilha, projetei minha vida financeira, profissional e familiar por anos.  Comecei a rabiscá-la aos 25, planejando o momento da mudança exatamente aos 37 anos de idade, justamente a fase que estou hoje.

É como uma maratona de milhares de km que você correu e que envolveu anos de preparação e dedicação e quando você está próximo a linha de chegada você tende a exitar, pensando duas vezes antes de dar o próximo passo. Bate o medo, a insegurança... Mas ao mesmo tempo vem lá de dentro (ou lá de cima ?!) algo que te empurra e te força a seguir adiante.

Quanto de grana precisamos ? Será que vamos limitar o futuro dos nossos filhos? E se todos não se adaptarem a um novo estilo de vida ? E se nos faltar grana lá na frente? São milhares de “se”...

A vida da gente é curiosa: quando jovem, a gente pensa em milhares de motivos que nos faz dizer “sim” e sempre dar o passo, por mais desprendido e aventureiro que seja. Por outro lado, depois de “velho”, nossa cabeça faz o oposto nos forçando sempre a pensar nos mil motivos para dizer “não” e se acomodar. Uns chamam isso de amadurecimento outros chamam isso de medo.

Nesta hora, lembro muito do meu pai, que nos deixou precoce aos 44 anos de idade. Com esta perda aprendi que a morte faz parte da vida e que a vida deve ser vivida intensamente, repleta de novas experiências e grandes amizades. Esta perda sem dúvida foi a grande semente de muita coisa que roda e sempre rodou na minha cabeça e coração.

É justamente sobre a experiência de mudança de vida e transformação que pretendemos dividir com vocês aqui neste blog. E esperamos que ela de alguma forma sirva para te motivar seja pra buscar o “sim” ou simplesmente para se manter no “não".

Começa aqui nosso "Projeto 4birds!”.

Nosso plano é simples: ver o outro lado da vida, largar a rotina da cidade.... viver uma vida simples a bordo de um veleiro rodando por ai, para onde o vento queira nos levar. E anote aí pois a data de “corte das amarras” se dará em 2015!

"Por que?!", ...nos acompanhe pois você vai entender.