segunda-feira, 18 de março de 2013

Insights no berço do capitalismo

Boston/EUA, 18 de Março de 2013

Escrevo estas palavras dentro de um vôo da American Airlines em algum lugar entre Boston e NY. Estive por aqui os últimos 9 dias participando de um curso de especialização. Fantástico, por sinal. Mas com sentimento antagônico retorno para o Brasil, enquanto escrevo estas palavras.

O antagonismo é fácil explicar. Afinal, nos meus quase 37 anos de idade a carreira se abre a frente e ao mesmo tempo estamos tocando nosso projeto de mudar de vida. 

"Calma, faltam somente 24 meses! Estamos quase fechando um longo ciclo de carreira e em vias de iniciar uma nova etapa de vida!!!!" , repito pra mim mesmo na tentativa de não me deixar desviar o foco.

Idealizei também nossa partida para dia abril de 2015. Afinal, dizem por ai que um plano de viagem que não tem data nunca sai do papel. Vamos partir simples assim, faça chuva ou sol. Afinal a janela de oportunidade vai se abrir e fechar a minha frente pois nesta época nossos filhos estarão com 8 e 6 anos, grandes o suficientes para ajudar e com idade boa para que a a escola seja tocada "a distancia" (homescholing). Depois disso, a vida tende a se enraizar novamente pois assim é o rumo natural da correnteza. Me sinto como em uma contagem regressiva e quando "a música parar", partiremos. A diferença, obviamente, será o tamanho do conforto financeiro, sendo maior, menor ou nulo. 

Mas voltando a falar sobre Boston..   

Assisti o intenso curso no berço do capitalismo com muita atenção e curiosidade. Se por um lado me encantou a solidez, profundidade, inteligencia, profissionalismo e senso de competição em tudo que vi, por outro me apavorou notar que gente tão inteligente e capaz norteiem suas vidas exclusivamente pelas suas carreiras e conquistas financeiras.

Conheci mulheres apaixonadas pelos seus cargos, lutando por títulos e progressões em seus 40 e poucos anos quando há muito já abriram mão da maternidade e família. Vi pais de família que se orgulhavam de intensa vida profissional abarrotada de viagens, compromissos e conquistas.. achando normal (como um simples efeito colateral) o distanciamento e pouco vínculo com seus filhos.

Interessante notar que os próprios mestres-gurus-do capitalismo parecem ter percebido este dilema social do mundo atual e o "tom" colocado ao longo de todo o curso foi uma mescla entre liderança empresarial e vida pessoal, incentivando a todos na sala a buscar refletir sobre suas vidas, buscando um melhor equilíbrio e uma visão de contexto mais abrangente.

Com espanto me dei conta de que a maior parte dos alunos, pessoas tão brilhantes e capazes, embarcavam nestas discussões sobre "perspectiva / equilíbrio de vida" como algo raro, nunca feito. "Será que estes caras não perceberam que a vida é curta e que um dia vamos morrer?", refleti.

No último dia, o professor - um senhor de 81 anos - um dos pais da Harvard Business School, fez um longo discurso sobre "vida" e perguntou a todos: "pra que vocês querem tanto dinheiro? Vocês acham que vão levar com vocês?". Logo após ele pediu que todos fizessem um exercício sobre nossas metas pessoais para o curto, médio e longo prazo. Feito isso, deveríamos olhar para o colega sentado ao lado e compartilhar estas visões.

Com curiosidade fiquei olhando ao redor as caras empenhados e pensativos buscando encontrar caminhos e novos insights.  Eu me limitei a aguardar. Com espanto meu colega ao lado se virou pra mim e me peguntou: "Você não vai fazer o exercício?". Eu respondi que sim. "já venho fazendo isso a vinte anos.. ", complementei mostrando a ele meus projetos pessoais... enfatizando nossos planos marítimos.

Com grande curiosidade ele emendou: "Mas o que você vai fazer depois disso ? ".  "Sei lá! ...planejei um monte de coisa até aqui. Agora vou viver um dia por vez, de forma simples!", complementei.

Foi interessante poder abrir 100% dos nossos sem vergonha ou receio. Finalizei dizendo a ele: "..este é o tipo de sonho que não posso compartilhar no Brasil, pois vai ser difícil o povo entender. Mas aqui contigo foi fácil dado que não nos conhecemos e provavelmente não vamos nos ver novamente",  ele riu de novo e assim encerramos.