segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O que virá pela frente esta nas mãos de Deus!

St.Marteen, 26 de Outubro de 2015.

O que será que vem pela frente nas próximas semanas ? Escrevo estas palavras no aeroporto de St Marteen, enquanto espero o voo de volta para o Brasil. Muita saudade da família, nenhuma saudade da vida urbana.  Na verdade, o problema não é São Paulo ou muito menos o trabalho, o problema sou eu mesmo.

Como um imã meu instinto, coração, e sei lá mais o que me empurra para mudar de vida. O tempo esta voando e ainda estamos enraizados na selva de pedra! O que nos segura aqui ?! ... o dinheiro obviamente!! Bosta de dólar alto, bosta de mercado imobiliário em baixa dificultando vender o que falta!

E pra variar o destino novamente nos aplica uma nova charada e bifurca a nossa frente: umas duas semanas antes desta viagem recebi um telefonema de um camarada da propria empresa me convidando para assumir uma posição fora. Canto mágico do mundo corporativo. Mudança com toda a família por dois anos. Cacete!!! "O convite não estava 100% confirmado", dizia ele. Ele estava testando a ideia, mas ainda faltava alinhaamentos na constelação corporativa.

Depois de conversar em casa, (a conversa durou dois minutos), retornei dizendo que topava. Morar fora, voo direto pro Caribe, talvez fizesse sentido sobretudo pois já forçaríamos a primeira ruptura com o Brasil. Encaramos esta hipótese como uma transição natural para nossa vida no mar. 

Se rolar, ok.. compramos o barco, deixamos por la.. e seguimos mais 1 ano a frente. Por outro lado, se não rolar vamos embora de vez!!! Esta nas mãos de Deus...  se for a hora de mudar de vida, saberemos em breve - inclusive para que direção.



PS (post atualizado em Abr/16): o convite foi fogo de palha, da mesma forma que veio foi-se, sem aviso prévio. Encarei com naturalidade e até mesmo com alívio, ...pois nossos corações (e mensagens que vem lá de cima) estão nos dizendo que nossa mudança de vida será agora meio do ano.







sábado, 24 de outubro de 2015

Culpo a Dilma ou parto para briga ?

Martinique, 23 de Outubro de 2015

Há doze meses atrás, não haveria dúvida. Com o dólar à 2.3 reais, U$250k a gente comprava um belo catamaran de 44 pés e se mandava mundo a fora. Mas em tempos de Dilma com corrupção desenfreada e nossa moeda virando pó ladeira abaixo.... os mesmos R$570mil viraram U$150mil. E nesta cifra o jogo embola, e a decisão de compra fica mais dolorida.

Minha cabeça tem saído fumaça de tanto fazer conta e tentar resolver essa equação furada. A verdade é que não tem solução mágica: ou diminuo o tamanho do barco / "envelheço" ele ou espero um pouco mais e junto mais dinheiro. Simples assim.

Antes dessa viagem, com milhares de dúvidas eu tinha pouca ideia de que barco comprar e depois de ver muita coisa e conversar com vários caras que já viveram a bordo a coisa começou a clarear. 

Estou no quinto dia de viagem, já rodei várias marinas de St Marteen e agora Martinique. Devo ter entrado em uns 30 barcos e conhecido uns 15 caras que moraram anos no mar. Inclusive, cheguei à conclusão de que se no Brasil temos um Amyr Klink e uma família Schurmann pra cada 200 milhões de brasileiros..... por aqui, a cada 10 franceses que conheci, 9 são do mesmo tipo. 

Cada história desgarrada, com filhos, sem filhos, grávidos, em tempos antigos, recentes, barcos velhos, pequenos, grandes... com dinheiro, pobre de dar dó, tem de tudo!!! E depois de viveram anos no mar e atravessarem vários oceanos sossegam em alguma ilha do Caribe (tipo essa aqui) e vivem como broker, skyper, eletricista, mecânico, chefe de cozinha, instrutores de mergulho,  raspam fundo de barco, administram marinas e coisas do tipo. Ainda vivendo do mar, porém em terra. 

Um deles me falou que encerrou a vida a bordo depois de 10 anos pois quando a filha chegou aos quatorze anos começou a pedir pelas coisas da cidade, como internet, lojas, escola... Não teve jeito, ele sossegou para dar a ela um pouco da vida tradicional que ele também teve na França.

Fato é que se no Brasil nosso projeto tem um "q" de raro e "aventuresco", aqui em Martinique é chover no molhado! Grande aprendizado conhecer e conversar com este tipo de gente, não só pela experiência, mas principalmente para tirar de uma vez por todas o sentimento de que "é uma opção de vida maluca". Afinal pode ser sim maluca para brasileiro, mas este tipo de vida é muito comum em países com tradição náutica.

Na mesma linha, se no Brasil catamarans são raros e barcos grandes também aqui é impressionante a fartura! Só em Martinique, em uma única baia (Le Marin) deve ter uns 500 veleiros de todas as marcas e tamanhos: vi Leopard 45, FP Orana 44, Belize 43, Bahia 46, Lavezzi, Lipari 4, Lagoons de todos os tamanhos e idade (Lagoons, inclusive, dá por aqui igual a manga no brasil!!), Nautitecs, Catanas, Helia, mas vi também OC50, Cyclades 50, Jeanneau 54, 50 DS... Alubares... trimarans de marcas sofisticadas e outros que nunca ouvi falar. Impressionante !

O bacana desta ilha tem a ver com o perfil do turismo daqui - mais restrito, menos turistico como em ilhas como Bahamas, BVI e st Marteen. Tem muito velejador que vem pra cá justamente pela tranquilidade, e tem também muita empresa de charter pequena focada nesse mercado, com gestão familiar...onde o barco é muito bem mantido e o uso anual é pequeno. 

Como a coisa é mais selecionada, muitos dos charters inclusive são com capitão profissional a bordo, fazendo uma mega diferença comparado com o aluguel bareboat (aluguel onde você é o capitão e por consequências faz a barbeiragem e o mal uso que quiser do barco). O resultado disso tudo é que você acha bons barcos a venda por aqui com o perfil deste povo... mais bem cuidado, com menos uso.

Hoje por exemplo, entrei em um Jeanneau 50 pés 2009 espetacular! Barco de charter porém com poucas horas de motor (2.500) e com velas, estaiamento, piso interno, casco tudo impecável. Quanto?! U$180mil. Tá afim ?! Entrei também em um Fontaine Pajot Orana 44, um degrau acima de tirar o fôlego. 

Como somos em 4 e nosso plano é seguir do Caribe para o Pacífico pelo meio do mundo (vento alísio), estamos considerando veleiros de 47 a 52 pés  ou Catamarans de 42 a 44 pés. Barcos como OC50, Jeanneau 50, Leopard 43-45,  FP bahia 46 e FP Orana 44 estão no nosso radar.

Recebi uma aula também de como funciona a depreciação/desvalorização dos barcos de uma forma em geral e me recomendam optar por projetos mais aceitos. Diz o povo aqui que o que acontece com os barcos é mais ou menos o que acontece com nosso mercado de carros: um ano depois da compra de um barco zero ele perde 20% do valor.. e de forma progressiva vai perdendo ate que cinco anos depois ele vale 50% do valor original. E do sexto ano em diante ele tende a perder em media 1% ao ano - obviamente tudo dependendo do nível de manutenção/trato que o proprietário tenha dado ao longo do tempo.

A regra acima, dizem eles, vale para barcos bons. Projetos "piores" tendem a ter soluços mais acentuados e menor liquidez dado a pouca fama do barco no mercado. Deram como exemplo positivo barcos como o Bahia, Belize, Lavezzi... projetos que estão a 10 a 20 anos no mercado. É claro que como estou em uma ilha francesa, os caras vendem mais o peixe dos barcos franceses..

Se o que eles dizem for correto, talvez faça sentido sim investir um pouco mais desde que no futuro a gente consiga revender o barco recuperando a maior parte do valor. Principalmente se no pacote vier conforto, segurança e prazer de viver a bordo.

Com tudo isso na cabeça...  e o garçom aqui me catucando para fechar a conta, passei a apontar meu canhão para o Foutaine Pajot ORANA 44. O valor vai nos esfolar muito mais no curto prazo mas talvez valha a pena. O futuro dirá.

Acompanhem !!


PS (atualizado em abril/2016): logo após esta viagem - em Novembro, decidimos a compra. Assinamos o contrato do FP Orana 44 ano 2010, um dos barcos que vi nesta viagem. Pagamos o sinal de 10% com o compromisso de quitar a compra em abril/16 mediante a entrega do barco. O barco é de uma pequena empresa familiar de charter e, apesar das 3.500 horas de motor, está impecável e com bom nível de equipamento. Falarei mais sobre isso à frente. 


esse aqui foi o Orana que a primeira vista nos pareceu inalcansavel
 e que posteriormente assinamos a compra

E abaixo outros vários barcos que vi nesta viagem...















A vida pode ser mais simples

St Marteen, 21 de Outubro de 2015.

Como a vida pode ser bem mais simples! Escrevo estas palavras tomando café da manhã em St. Marteen, lado francês. Enquanto dou uma bicada no café, vejo o povo do mar ir e vir em seus dinghes entre manutenções, obrigações e coisas do tipo.

Cheguei aqui ontem para iniciar de forma séria (agora sim!!) a compra do nosso barco. Comprei a passagem pra cá exatamente no dia em que entreguei o Lafitte pro seu novo dono, meio que um remédio pra curar a ressaca da venda do barco.  Deu certo, pensei tanto nesta viagem que virei a página rapidamente e nem olhei pra trás.

Vim sozinho de mochila nas costas, música nos ouvidos e muitos pensamentos na cabeça. Como essa viagem é exploratória - a primeira de duas ou três vindas, trazer a tropa toda não cabia na logística e nem no bolso.

Nos últimos dois dias vi uns 7 a 10 barcos entre catamarans e veleiros. Bom estar aqui, pois a variedade, tamanhos e quantidades de barcos põem o Brasil de joelhos. Enquanto em todo nosso país devemos ter um ou dois Jeanneaus 54 por aqui tem cinco a cada esquina.

Inclusive vi um destes de cair o queixo. Como estamos no meio da época de furacão o bichão estava amarrado no seco em um shipyard impondo respeito.  Shipyard (eu não conhecia) é um grande pátio de estaleiro onde eles fazem manutenções e também guardam barcos amarrados em blocos de concreto ou enterrado com a quilha no chão para proteger do furacão. Deve dar certo, pois o pátio estava lotado.

Jantei ontem tomando um vinho e olhando para Fountain Pajot Orana 44 (catamaran), simplesmente um espetáculo! A cada garfada na pizza meu pensamento ia mais longe imaginando a vida a bordo com nossa galerinha. Verdade é que esse barco (dos sonhos) talvez não caiba no nosso bolso em tempos de Dilma com dólar a 4 reais. Mas quem sabe, sonhar é de graça. 

Hoje pego um voo para Martinique - outra ilha francesa a duas horas daqui. Por lá tem vários catamaran para visitar e alguns bons veleiros também.

É, a vida pode ser sim bem mais simples e descompromissada. Por aqui já conheci francês, inglês, lituano, alemão... Todos filhos do mundo, viajantes que já pingaram em vários países e em vários tipos de trabalhos como garçons, brokers, skypper, gerentes de restaurante e por aí vai.

Falam vários idiomas e trabalham para ganhar algum dinheiro e viver. Diferente do nosso modelo atual de viver para trabalhar, conquistar, competir... Se o trabalho acaba ou a vida tá ruim ele simplesmente mudam de ilha ou mesmo de país. 

Um deles, um alemão grande (que já morou em vários países) e hoje é gerente de uma pizzaria onde estava jantando, me cumprimentou e quando viu que eu era brasileiro já mandou na lata, "Good evening 7 - 1", demorei para entender, mas ele chutou de primeira: "...come on, don't you remember the worldcup last year ?", ok.. entendi.  "We'll be back" , eu disparei.  :)))  

Outra historia interessante é da broker (Marie-Claire) que esta me atendendo.  Francesa, simpática, mora por aqui há dois anos, veio para cá com o marido e dois fillhos de "mala-e-cuia".  Aproveitou que fala vários idiomas e mesmo sem entender muito de barco conseguiu emprego como broker de barcos. Simples assim, decidiu mudar de vida e pronto. Enfim.. mais notícias em breve.







Esse barcão aqui é o Jeanneau 54 que falei. no canto a direita a Marie-Claire,
amiga broker que muito nos ajudou na procura pelo barco ideal

No fundo o alemão grande, o tal cara do "seven - one"

Pegando voo de St Marteen para Martinique..



Barcos amarrados no estaleiro em Martinique..


Meu cafe da manha em St Marteen - pensando na vida.. sonhando..