segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Diário de bordo: De leste a oeste de P. Rico pelo sul



13/dez - Terça: Palmas Del Mar - Salinas

Depois de uma semana novamente parado na Marina em Palmas Del Mar, finalmente terminamos as manutenções e pudemos seguir viagem. Desta vez o que nos prendeu foi uma peça que segura a retranca no mastro... achamos uma pequena rachadura nela e preventivamente decidimos reforçá-la. 

Tentamos também - sem sucesso - concertar o diabo da catraca eletrica. Desmontamos... enviamos pra reparo e nos deram o diagnóstico: $800 dólares pra trocarmos a engrenagem que cola no motor (gearbox). Além da dor no bolso, doeria também ter que esperar mais tempo a peça chegar dado que nosso tempo tá ficando apertado pois precisamos seguir viagem rumo a Turks & Caicos para o Natal. Com dó e com os braços preparados decidimos seguir viagem sem nossa amiga automática funcionando.

Pra você aí que nos lê, talvez uma catraca elétrica te pareça um luxo. Eu também não sentia falta dela quando velejava no Brasil no nosso saudoso LAFITTE. Mas hoje já acho que ela mais parece um item de segurança a bordo - principalmente para um barco deste tamanho. Mais ainda pois no nosso caso quase sempre velejo sozinho (com o povo dormindo ou dentro do cockpit) - e facilita muito minha vida a amiga automática subindo e descendo velas deste tamanho. 

O previsão do tempo mostrava um mar de 2m acompanhado de vento de 20 nós com rajadas de 25. Decidimos seguir viagem pois nosso rumo pegaria esse mar de cara por pouco tempo e logo teríamos ângulo para virar o barco e seguir com tudo a favor contornando a ponta sudeste de Puerto Rico.

E assim o fizemos. O ITACARÉ novamente mostrou sua valentia encarando mar de cara e voando nas ondas. A chuva teimou também em aparecer temperando ainda mais nossa partida. 

Uma hora depois do sacolejo, mudamos nosso rumo ao sabor do arco íris que se formou ao nosso lado... seguimos empopado a quase 9 nós com um mar mostro crescente atras da gente. Por vezes as ondas passaram a altura do nosso painel solar... a visão delas vindo dava a mesma sensação de quando estamos na praia e avistamos o paredão de agua vindo a nos engolir. A diferença é que por aqui o ITACARÉ sobe o paredão de costas e desce surfando meio rebolando pra repor o rumo.

Ancoramos seguramente meio da tarde em Salinas, uma pequena enseada muito bem abrigada no meio da ilha (no lado sul), rodeada por mangues e habitada por vários peixes-boi. Aproveitamos o fim de tarde para uma remada no stand up, e ao entrar da noite de lua cheia a viola rolou solta na proa. Dia espetáculo!


14/dez - Quarta: Salinas - Isla Del Muertos

Dormimos a noite dos deuses, nos fazendo lembrar da amada Paraty tamanho sossego. O vento zerou fim da tarde ontem e nossa ancoragem virou um espelho refletindo o céu e as estrelas. Como Porto Rico é grande e tem morros altos sempre no começo da noite vem um vento da terra (terral) anulando quase por completo o vento alisio sempre nos gerando noites calmas.

Acordamos cedo com o barulho dos peixe-boi pulando a volta do barco. Engatamos no homeschooling por duas horas e logo depois subirmos as velas rumo a Isla del Muertos a três horas de distância seguindo nossa viagem rumo ao lado oeste de Puerto Rico.

Velejamos a velejada dos sonhos com mar mediano e ventão. O ITACARÉ de novo deslizou empopado lindamente em um rumo direto até nossa chegada. Bati altos papos com meus moleques enquanto velejávamos. Curiosos me perguntam sobre tudo e me pediram pra contar várias histórias. Hoje engatei uma quarta marcha e puxei desde de lá do império romano até a 2a guerra mundial. Bacana. Cheguei a ficar com a garganta doendo. Muito bacana esse convívio diário e intenso com muita troca de ideias e aprendizados. Este é mais um dos grandes prazeres da vida a bordo.

Na nossa chegada a Isla del Muertos demos um jaibe para contornar a ponta da ilha e viemos caçando a vela (recolhendo vela) a medida que fomos dando o traves pro vento. O ITACARÉ voou batendo quase 13 nós mesmo com vela rizada. Espetáculo este barco!

15/dez - quinta: Isla Del Muertos

Logo cedo o veleiro brasileiro Alaússa do amigo Léo pintou na nossa ancoragem. Muito bom conhecer novos amigos e reencontrar brasileiros. Já tínhamos nos falado pelo facebook várias vezes ao longo do ano mas foi só agora que nossos caminhos se cruzaram. Eles vieram subindo a costa depois de longa estadia na República Dominicana e estao seguindo a leste em direção às USVI e BVI - e nós estamos fazendo o caminho ao contrário descendo a oeste para subir para TURKS.

Depois das apresentações regada a cafezinho com pão recem feito pela Branca seguimos de dinghy pra praia e de lá fizemos a trilha até o farol. Muito bacana a vista da região. Emendamos famintos em um bom barbecue no ITACARE para depois das despedidas cada um seguir seu caminho.

Boa sorte amigos! Foi um prazer conhecê-los!

16/dez - Sexta: Isla Del Muertos - Guilligan

Levantamos ferro logo após o homeschooling e aproveitando o vento leste perfeito de vinte nós com mar pequeno e seguimos empopado em asa de pombo por três horas avançando mais a oeste. Ancoramos no começo da tarde em frente a um belo resort em Cayos de Cana Gorda - mais conhecido pela ilha de Guiligan. Já estamos no meio de P. Rico.

Apesar da velejada perfeita... no final cometi um erro e quando fui baixar a vela mestra a bichana arrastou na beirada do lazyjack e fez um rasgo de meio metro. Uma bosta. Rasgou igual papel... mostrando que em breve teremos que soltar o camarão e investir em velas novas antes de voos maiores. Entre mortos e feridos vamos aproveitar o dia parado amanhã para fazer os devidos reparos. Ainda bem que compramos bastante reparo de vela com cola para facilitar nossa vida.


17/dez - Sábado: - Guilligan

Apesar desta ancoragem ser um pouco desconfortável dado uma esteira de mar que teima em balançar o barco de lado - o belo resort em frente com Wi-Fi gratuito nos convida a ficar por aqui um dia.

Reparamos a vela cedo pela manhã e encontramos cinco rasgos de diferentes tamanhos. Essa vela realmente está em fim de vida... mas com o reforço que demos talvez de pra ir levando mais um tempo.

Logo depois seguimos de bote pro pier do hotel e por lá passamos o dia. Ver o ITACARÉ ancorado a distância... tomando uma gelada no bar do resort não tem preço!

18/dez - Domingo: - Guilligan - Cayo Henrique  (La Parguera)

A previsão do tempo se confirmou e o vento alísio soprou forte meio da manhã. Viemos voando só de genoa e com um motor ligado - ligamos pra fazer água pois nosso tanque ja estava no final.

Nossa ancoragem fica dentro de uma pequena Bahia repleta de pequenas nas ilhotas de mangue e de recifes. Um labirinto! Tanto a carta da navionics quanto a da Garmin por vezes se mostraram erradas neste mar de recifes.. e viemos mesmo na navegação visual com a Branca lá na frente me ajudando a rebolar por entre os recifes. Chegar ou sair à noite daqui é catástrofe na certa. 

Pegamos uma mooring bem abrigado entre recifes e a medida que o vento sossegou e o terral chegou o visual a volta foi ficando mais agradável mostrando a beleza do lugar. A noite escura com céu limpo fez Vênus brilhar mostrando também incontáveis estrelas.

Tá chegando a hora de seguirmos pra turks... com olho firme na previsão do tempo seguiremos amanhã pra nos posicionar na última ancoragem antes de partir em definitivo.


19/dez - Segunda: Cayo Henrique  (La Parguera) - P. Real (lado oeste de P. Rico)

A previsão do tempo errou e só tivemos calmaria hoje nos obrigando a vir motorando por três horas até Puerto Real - uma pequena enseada já no lado oeste da ilha.

Ao cruzarmos a ponta oeste de P. Rico demos de cara com um navio da guarda costeira. A distância ele nos seguiu por um tempo mas depois soltou dos botes velozes cheio de policiais na nossa direção. Ao se aproximaram tocaram uma buzina alta e vieram nos abordar.

O povo a bordo ficou um pouco apreensivo afinal está foi nossa primeira vez sendo abordado no meio do mar. Por uns 20 minutos vasculharam tudo a bordo, olharam validade de equipamentos, olharam porões a procura de drogas, nos fizeram várias perguntas e verificaram nossos papéis. Lembrem-se que aqui é os EUA com jeito latino, logo o approach foi sempre extremamente profissional e amigável.

Encerrado os procedimentos fomos liberados sem nenhum problema. Muito saber que estes caras estão sempre por perto monitorando o canal 16. Pena que nem todo país que passaremos tem este nível de suporte.

Este é nosso último relato sobre Porto Rico. Já estamos com tudo preparado e devidamente posicionados para nos lançarmos em direção a Turks & Caicos amanhã pela manhã. Teremos vento de 15 a 20 nós e mar de 2,5 metros com onda, vento e corrente a favor. A previsão se confirmando deveremos navegar a 7,5 nós e percorrer as 400 milhas náuticas em dois dias e pouco, passando pelo norte da República Dominicana e a sul dos bancos. Temos que ficar ligado nas baleias pois elas descem até a Rep. Dominicana nesta época do ano.

Até breve!



domingo, 4 de dezembro de 2016

ItacareTUBE - EPISODIO 1.1 Curaçao & Bonaire

Culebra, 4 de Dezembro de 2016


Olá Pessoal,
este é o nosso primeiro vídeo mostrando nossa vida a bordo do Itacaré. Começamos nossa viagem em Jul/2016, e neste video mostramos a compra do barco em Martinique bem como nossos primeiros meses de adaptação em Curaçao e Bonaire.

Se você curtiu.. clique no botão abaixo... e fique a vontade também para deixar seu comentário e sugestão para novos vídeos.

...nosso objetivo é dismistificar a vida a bordo, e compartilhar com vocês os detalhes do nosso cotidiano. Aguardem os próximos episódios!

Até!





quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Diário de Bordo: Vieques - Culebra - Culebrita (Parte 2)

Dia 6 - 24/Nov - Ensenada Honda, Vieques (PR)

O sol deu as caras hoje e junto dele o ventilador ligou também... a frente fria já dissipou e o vento alísio retomou o seu lugar com força. O leste entrou firme bagunçando tudo a volta não nos convidando à nos lançarmos ao mar, pois é justamente contra ele que temos que seguir. O ideal seria ficarmos quietos aqui por uns 2 a 3 dias esperando o vento acalmar, mas infelizmente não vai dar.

Estamos há 2 dias sem previsão do tempo pois aqui não chega sinal de celular. Em uma situação normal não seria problema pois baixamos o forecast de 7 dias antes de sair, mas o que nos gera a dúvida e ansiedade é que na última vez que vimos a previsão, mais um furacão tinha acabado de ganhar força no Caribe. Este agora armou no sul próximo a costa do Panamá/Nicaragua... e dias atras o rumo dele era uma incógnita. Saber para que lado o bicho vai virou uma das nossas principais preocupações.... 

Depois de um rápido debate a bordo decidimos seguir viagem. Ficar aqui isolado do mundo sem ter notícias do tempo pode vir a se tornar um problema ainda maior. Vai que o desavisado resolve subir a nordeste passando perto de Porto Rico assim como o último...

Levantamos âncora, subimos as velas e pau na máquina! Pegamos por duas horas o maior mar que vimos até aqui. Como a costa sul de Vieques é bem rasa (<15m) o leste empurrou um mundo de água com vontade fazendo o mar subir com ondas de até 3m desencontradas. De novo o ITACARÉ pulou feito cabrito fazendo ranger a fibra e mais uma vez nossa jovem tripulação foi testada.

Seguimos firme contra mar, vento e corrente andando a 4 nós por quase duas horas. A bordo o povo seguia calmo contemplando o burrifo das ondas explodindo no casco e não se intimidando com o mundo de água que as vezes atropelava a frente do Itacaré. "Papai, você acha que essa aqui tem mais de 3 metros?!", eles se divertiam medindo e procurando as maiores ondas. Bacana ver que alto mar deixou de ser novidade, mesmo em uma situação mais desconfortável. Como tudo na vida... a gente também se adapta e acostuma com o alto mar.

Horas depois o sacrifício virou prazer, pois quando chegamos na ponta leste da ilha viramos nosso rumo para o norte. E o vento e corrente que há pouco nos atrapalhavam, viraram nossos aliados nos empurrando rumo a Culebra. O ITACARÉ voou de asas abertas com ventão de través chegando a bater 10 nós mesmo com velas rizadas (reduzidas). Um espetáculo!

Nestas 4 horas tivemos vários ataques na nossa linha. O primeiro foi logo na saída e a linha chegou a arriar a varinha de tanta pressão... e depois de muita luta trouxemos metade de uma barracuda a bordo. A outra metade acho que ficou na barriga da mamãe tubarão.... e a pressão na vara foi justamente o cabo de guerra para ver com quem ia ficar o peixe.

Depois puxamos um xaréu de bom tamanho e na mesma linha veio junta outra barracuda. Mas o maior e mais pesado ataque veio quase no final. A carretilha disparou acelerada aos berros sem parar. Deixei correr.... e depois lutei firme com todas as forças quase sem conseguir enrolar a carretilha tamanha a pressão. Pouco depois a linha afrouxou.... recolhemos, mas desta vez a isca voltou inteira, foi ponto pra eles. Uma pena. Esse era dos grandes. Nem preciso dizer que cada ataque e ziiim da carretilha a tripulação mirim vai loucura aos gritos de "suchi, suchi, suchi!!"

Chegamos em Culebra começo da tarde e ancoramos a 4m de profundidade no fundo da Ensenada Honda junto de várias outros veleiros. Mal chegamos e já fomos pro dinghy Dock de bote procurar o happyhour local e fazer um reconhecimento na vila que fica em frente. Já na chegada fizemos amizade com uma família da Alemanha e outra dos EUA. Depois de dias sem ver civilização - e apos um mar como esse, uma cerveja gelada sentado em um boteco vale ouro!

Ancoragem na Ensenada Honda, Culebra


Dia 7 - 25/Nov - Ensenada Honda, Culebra (PR)

Hoje nosso dia foi em terra, sem relatos náuticos. Acordamos cedo e engatamos na homeschooling e logo depois montamos nossas bikes dobráveis, fomos de bote pro pier em frente e pedalamos praticamente o dia todo a ilha de Culebra. Depois de dias no mar, aproveitar a terra firme tem o seu valor.  E rodar a ilha de bike com os moleques na garupa foi um barato.

Devemos ficar aqui mais uns dias antes de novamente nos lançarmos para as ancoragens ao redor.


Dia 11 - 29/Nov - Culebrita (PR)

Levantamos âncora e seguimos viagem para Culebrita, uma pequena ilha que fica em frente à Culebra, 20 minutos de onde estávamos.

Impressiona a quantidade de peixes grandes que tem por aqui.. falei sobre isso dias atras quando experimentamos a pescaria de linha, mas agora foi a vez de ver tudo de perto a olho nu mesmo.  Na ancoragem em Culebrita dois grandes anemuras (?!) ficaram por horas nadando debaixo do barco - acho que são aqueles peixes-piloto que agarram nos tubarões. Eles são esquisitos, de cabeça chata... e parecem que foram feitos ao contrário de cabeça para baixo. Nadam rápido, nervosos... e acho que tem mais de 1m cada um. Não sabia que esses bichos podiam ficar tão grandes.

Grande também é a quantidade de barracudas que tem por aqui... como o povo não gosta delas por causa da cigaterra... elas reinam e aparecem em cada ancoragem para fiscalizar o que tem por perto. E a bicha é danada e territorial. Hoje quando estava pegando lagostas uma das grandes deu de cara comigo e ficou me cercando pra onde eu ia. Quando recuei para o bote a danada veio atras me farejando como um cão de caça. Eu estava sem o arpão e cheguei a ficar preocupado... mas depois voltei armado para ver o que a bicha ia fazer... vez ou outra eu nadava na direção dela e ela recuava um pouco para minutos depois vir na minha direção me encarando cheia de dente. Como não da pra comê-la deixei quieto e retornei pro barco pois já estava entardecendo...  (e tava desagradável ficar de costas afundado entre recifes com uma bichana destas me cercando).

Pegamos também nossas primeiras lagostas da viagem. Uma fizemos na churrasqueira, as outras duas (menores) fizemos como entrada cozinhando na panela com água e depois passando no azeite na frigideira. Espetáculo!

Nestes últimos 4 dias experimentamos várias ancoragens ao redor... Culebra e Culebrita são cheio de cantinhos bacanas de água cristalina. Mas a ancoragem mais bonita acho foi a da praia principal em Culebrita - uma pequena praia linda de água turquesa, rodeado por recifes e coqueiros. Valeu muito também fazermos a trilha até o farol no alto morro.


Caminhada até o farol de Culebrita - uma pequena ilha que fica em
frente a ilha de Culebra - lado leste de Puerto Rico




Nossa primeira lagosta da viagem... virou barbecue no nosso fim de tarde

Praia em Culebrita... uma das mais bonitas que vimos até aqui



Dia 12 - 30/Nov - Ensenada Honda, Culebra (PR)

Retornamos há pouco para Ensenada Honda na ilha principal para repor os mantimentos, comprar gasolina para o dinghy e encher nossos galões com água potável - momento em que escrevo estas palavras e aproveito a internet para publicar mais um post.

Hoje pela manhã participamos de um aniversario de 6 anos de um menino americano de um barco vizinho. A festinha foi na praia e outros velejadores também participaram. Nossos filhos se esbaldaram nos doces e nas brincadeiras com as outras crianças. Muito bacana a simplicidade e naturalidade da vida a bordo.

Já estamos de olho na previsão de tempo pois nas próximas semanas devemos seguir viagem para República Dominicana - ou talvez direto para Turks & Caicos - umas ilhas paradisíacas a 450milhas a nordeste daqui, já colada nas Bahamas - local onde passaremos o Natal, Ano novo e o mês de Janeiro.










quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Diário de bordo: Vieques - Culebra - Culebrita (Parte 1)

Dia 1 (19/nov): Palmas Del Mar -> Pta Arenas, Vieques (PR)

As encomendas que esperávamos chegar pelo correio chegaram pela manhã (umas peças que precisamos trocar no mastro e vieram dos EUA). Não perdemos tempo... rapidamente já aprontamos o barco e seguimos viagem para Ilha de Vieques, uma ilha a leste de Porto Rico, uma hora e meia de viagem da marina.

Saímos por volta das 12:00 motorando com mar calmo e vento fraco de nordeste... subi a vela mestra para caso o vento melhorasse e por azar tivemos mais uma quebra. Desta vez foi a catraca elétrica que parou de girar sem aviso prévio, bosta.

Tivemos dois ataques fortes na nossa linha... provando que a técnica de usar o "BIRD" como chamariz junto da isca realmente funciona.

O primeiro foi logo a 15 minutos de viagem... mordeu forte disparando o ziiiiiiiimmmm da carretilha mas segundos depois a linha afrouxou.

O bichano deu sorte pois o anzol não fisgou. O segundo ataque foi mais firme... pra animar a tripulação. A distância já vimos o brilho prateado de um belo atum de uns 4kg brigando pra ser puxado a bordo.

Aprimoramos ainda mais a técnica para limpa-lo e tirar os filés... tô ficando bom nisso. Desta vez deixamos o bicho de cabeça pra baixo sangrando dentro de um balde e o resultado foi ótimo pois a carne ficou mas clara sem manchas escuras.

E usei também uma faca bem fina cumprida que compramos recentemente.. um espetáculo, o corte parece na manteiga. Minha Branca também fez upgrade na arte da culinária e rapidamente preparou arroz japonês e jantamos uns belos temakis (tudo bem que a arte de enrolar o cone ainda tem que ser melhor desvendada).

Ancoramos em Punta Arenas (lado oeste da ilha) com facilidade a 2m de profundidade em um claro fundo de areia. Mergulhei para verificar nossa ancoragem e me animei em ver que nossa Rocna de 25kg (nossa nova âncora) estava completamente enterrada deixando somente a aste pra fora. Valeu o investimento.

Em nossa ancoragem tem um outro veleiro vizinho... e de bate pronto ele veio nos cumprimentar: "De onde vem este ITACARÉ?", o amigo emendou falando em português. Mais uma das coincidências da vida a bordo. 

O veleiro Renewal é de uma família de americanos que viveu a infância no Amazonas e depois nos Açores. Moram a bordo por 3 anos e este ano decidiram mudar de vida e pararam em terra e compraram uma casa em Porto Rico. Papo vem e papo vai... e descobrimos que meses atras eles estavam lado a lado por semanas com nossos amigos do El Caracol em Turks and Caicos. Mundo pequeno.


Tivemos uma noite agradável de muito bate papo no barco deles.. valeu amigos ! Pena que o tempo foi curto e amanhã vamos um pra cada lado. A gente pra leste contornando Vieques e eles de volta pra Porto Rico.

Para finalizar um ótimo dia, vimos hoje uma das noites mais estreladas e limpas até aqui. Ficamos por horas no teto do barco olhando pro céu. Este, sem duvida, é um dos vários prazeres da vida a bordo.


Dia 2 (20/nov): Punta Arenas, Vieques (PR)

O sol deu as caras hoje. A distância víamos as nuvens negras paradas sob Porto Rico e deu pra entender o porque de todo dia chover por lá. A umidade vem do mar e esbarra com os morros altos de Porto Rico acumulando tudo por lá. Mesmo efeito da nossa Serra do Mar entre Ubatuba e Angra.

Rodamos todas as praias da nossa ancoragem com nosso caiaque e nosso standup. Tava sentindo falta de fazer isso. Falamos também por WhatsApp com amigos no Brasil... ficamos sabendo das novidades no trabalho e com saudades do povo todo!

Tomei coragem também e desmontei a catraca elétrica... foi como desmontar e remontar um quebra-cabeca. Aproveitei para limpa-la, lubrifica-la, e com cuidado recoloquei tudo no lugar.. deu certo. Animado apertei o botão para testá-la e....... pronto. Continuou sem funcionar. Bosta. 

Fim de tarde seguimos motorando sem vento contornando Vieques pelo lado sul até uma ancoragem em frente a um pequena vila (Esperanza). No caminho tivemos novamente dois ataques fortes na nossa linha anunciado aos gritos pela carretilha.

Desta vez puxamos duas grandes barracudas pesadas e cheia de dentes. Foram nossos maiores peixes até aqui... talvez uns 8kg a 10kg. Com cuidado devolvemos elas pro mar para sofrimento das crianças. Dizem que por aqui as barracudas comem peixes de recife que se alimentam de uma alga venenosa chamada cigaterra...  e se você der o azar de comer uma delas a coisa pode ficar feia.

Aproveitamos o motor ligado e ligamos nosso watermaker e enchemos nosso tanque. Eu tava preocupado pois ele estava a quase 30 dias sem funcionar. Ainda bem que deu tudo certo... e por enquanto água não é um problema.

Ancoramos em frente à vila em um fundo ruim de grama. Mergulhei para verificar e nos susto vi nossa Rocna travada em um grande cano de ferro 4m de profundidade. Ralei para soltá-la e arrasta-lá no braço para longe do cano. E depois ajustamos a ancoragem com calma. A branca deu ré no ITACARÉ e eu fiquei na água observando a corrente esticar e a âncora forçar passagem no fundo duro e se enterrar por entre a grama. Gostei do que vi... havida no mar, confiança na âncora e sinônimo de noites bem dormidas.

A chuva desabou torrencial começo da noite. Fantástico ouvir ela batendo no casco do barco e a gente enrolado no lençol dentro da cabine. Este é outro dos bons prazeres da vida no mar.


Dia 3 (21/nov): Esperanza, Vieques (PR)

Choveu a noite toda, torrencialmente, horas se parar...  Se nosso barco fosse uma casa na terra certamente ficaria alagado.

Tá tudo molhado a nossa volta e a vida a bordo fica meio bagunçada e desconfortável. Tem uma frente fria estacionada a norte de Puerto Rico e o mal tempo estacionou por aqui.

Fizemos a homeschooling pela manhã tentando tirar um pouco do atraso e engatamos no jogo de war a tarde.

A chuva continuou a tarde toda lá fora e a guerra mundial comeu solto a bordo do ITACARÉ. Muito bacana ver a atenção e empenho dos moleques no jogo... os bichinhos comemoram cada disputa de território como se fosse um gol no futebol.

A chuva não deu trégua hora nenhuma e decidimos ficar mais uma noite por aqui.

Dia 4 (22/Nov): Puerto Ferro, Vieques (PR)

Os dias estão se misturando e se não fosse por este diário de bordo ou pelo calendário já estaria perdido na sequência dos fatos. Estamos a dias sem internet e o sinal de celular é bem fraco, o que ajuda na nossa sensação de isolamento.

De novo choveu a noite toda, aproveitamos o dia feio para levantar âncora e seguir mais a leste da ilha de Vieques. Quando saímos do abrigo da enseada que estávamos sentimos a força do mar vindo de sudeste. De novo motoramos dado mar e vento contra. O ITACARÉ sacudiu e bateu um pouco mais nada grave. 45 minutos depois já ancoramos em Puerto Ferro - uma enseada bastante abrigada por todos os lados, com fundo de lodo de 2M e rodeado por mangue.

Como o sol deu as caras fraco entre nuvens deixamos a homeschooling pra parte da tarde (quando deve chover de novo) e fizemos um reconhecimento a remo de caiaque e standup pelos canais de mangue a nossa volta. Muito bacana.

Pra ser perfeito faltava um fundo de areia para deixar a água clara. Chamou a atenção 4 barcos abandonados no meio do mangue... parecem barcos fantasmas abandonados há anos. Tirando eles.... não tem mais nada a volta. 

A noite a ancoragem ganha ares ainda mais remotos e o breu da noite e o silêncio total chegam a atiçar os fantasmas na nossa cabeça. A Branca fica um pouco apreensiva... e eu durmo igual um neném.


A chuva parece que não vai dar trégua. Se ficar assim já devemos seguir viagem mais a leste amanhã pela manhã.


Dia 5 (23/Nov): Ensenada Honda, Vieques (PR)

Acordamos cedo e já levantamos a âncora rumo a Enseada Honda, 45 minutos contravento a leste. Foi tiro curto... e pouco tempo depois já estávamos seguramente ancorados a 5m de profundidade no fundo da baia. 

Essa baia é também muito bem abrigada, bastante selvagem, porém a água é mais limpa... criando um visual mais simpático, comparado com a última que estávamos. O único sinal de civilização que temos a nossa volta é um outro barco que divide a ancoragem com a gente. Fora ele, o resto é mar, morro, mangue e céu. Estamos completamente isolados. Adoramos esse lugar! 

Aproveitamos o sol da parte da manhã e fomos de dinghy (bote) até os recifes da entrada da baia tentar pegar lagosta. Não demos sorte e não vimos nada que valesse a pena .. e nem um tiro sequer disparei (pra tristeza dos moleques). Mas valeu muito o passeio pois vimos umas 15 arraias de tudo quanto é tamanho e vimos também um tubarão nurse (lixa) calmamente deitado entre as pedras. Chamei os moleques pra ver e eles vieram colados comigo apreensivos. Foi a primeira vez deles vendo um bicho destes de perto. Bacana a experiência que eles estão tendo vendo o mundo ao vivo e a cores. Às vovós que devem estar me lendo eu aviso: fiquem tranquilas pois este tubarão é bobão e não faz nada, ok?!

A tarde engatamos na homeschooling... e próximo ao por do sol saímos de caiaque e standup para explorar os mangues que ficam a nossa volta. Excelente o programa também. Seguimos a remo deslizando suavemente por um braço de rio que hora estreitava, hora abria-se. Levamos a GoPro... e em breve devemos publicar alguns vídeos. 

Mas o mais emocionante ficou para o final: Ze Cuca voltou remando no standup e nós três (eu, Branca e Bruno) voltamos no caiaque logo atrás. Quando ele chegou próximo ao ITACARÉ pulou na água pra subir no barco... nadou um pouco batendo perna para logo subir na escada e tomar banho. Seguimos logo atras (do Caiaque direto pro barco) e minutos depois estávamos todos juntos tomando banho na popa do barco.

Neste momento todo mundo arregalou os olhos ao ver na nossa popa, no mesmo percurso que o Lucca tinha acabado de fazer, um cação nadando na superfície quase esbarrando no barco. Esse não era Nurse/Lixa... mas também não sei dizer de que tipo era. Acho que ele veio curioso com o barulho das pernadas do Lucca... e veio farejando quase esbarrar na escada do ITACARÉ por onde o Lucca havia subido minutos antes. Foi tipo cena de filme com barbatana e tudo pra fora d'Água.

Enquanto o povo tava de olhos arregalados vendo o rebolado do bichano deslizando na superfície a 1 metro de distância... por extinto corri para pegar o arpão. Imaginei um tiro certeiro vindo de cima e pensei logo em uma bela moqueca de cação para o jantar. Mas não deu certo pois quando voltei ele já havia sumido.

O bicho era pequeno... talvez uns 60cm (uns 8kg?!)...mas fiquei com uma dúvida: será que a mãe dele também anda por aqui?

A noite fechou animada com mais uma guerra mundial no war... porém sem vitoriosos, e com acordo de paz dado timeout.








quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Reportagem da Revista Nautica

Puerto Rico, 17 de Novembro de 2016.

Aos amigos que não tiveram a oportunidade de ver a reportagem sobre nossa história na Revista Náutica mês passado, clique no link abaixo para vê-lá em PDF.





domingo, 13 de novembro de 2016

Puerto Rico, a ilha dos sorrisos

Puerto Rico, 13 de Novembro de 2016.

Hoje completamos uma semana em Porto Rico e até agora só temos coisas boas a falar desse lindo país. Seja pelo clima bem mais agradável (aqui chove todo dia!), seja pelo verde (aqui tem floresta tropical igual no Brasil... abarrotada de cachoeiras!), seja pela história (aqui tem fortes e construções de 450 anos atrás completamente preservados!), ou pelas mega lojas de tudo quanto é tipo (excelente para provisionamento) ou, principalmente, pela simpatia e astral do povo em geral. Eu diria que aqui é o país dos sorrisos... com pessoas amistosas, simpáticas que se cumprimentam na rua e estão sempre dispostas a ajudar. 

Logo na nossa chegada da marina já esbarramos com vários sorrisos: o sorriso do Bernardo e do Roberto - que trabalham na marina e nos ajudaram a amarrar o Itararé, o sorriso da Glenda - responsável pela administração, o sorriso do Horlando - barman quem fez o melhor hamburguer que comemos até aqui. Tivemos sorrisos até dos policiais da imigração que vieram até nosso barco para vistoriar de forma amigável tudo a bordo, acredita?! Esse clima astral de gente simpática parece que contamina o povo em geral e em segundos fomos fazendo amizade com outras pessoas que também moram abordo na marina. 

Aqui moram uns 3 a 4 militares aposentados e veio de um deles o convite para participarmos da comemoração do aniversário dos Mariners.... comemorado a última quarta a noite com um churrasco regado a lagostas no bar da piscina. Diferente do Brasil, o americano é muito patriota (não só em jogo de futebol) e tem muito respeito pelas forças armadas e guardam com muito carinho e orgulho suas tradições. Esse aniversário é celebrado a quase 300 anos e teve direito a bandeira americana, cartazes, charutos, bolo, discursos e leituras de cartas dos generais das forças armadas. Cerveja vem, cerveja vai e aos poucos fomos também conhecendo um pouco da história de cada um.

Um dos amigos, que mora em um yacht em frente ao Itacaré, já rodou o mundo acompanhando as guerras americanas por décadas. Esteve no Iraque, em várias bases americanas espalhadas por aí.. e por aí vai. Ele era responsável pela logística de abastecimento no front de guerra sempre levando até os soldados munições, armas, comida... seja lá o que fosse necessário. Com orgulho ele nos disse que conseguia tudo em menos de 24 horas e nunca nenhum batalhão coberto por ele ficou desassistido. Com tristeza ele também nos contou que veio da esposa dele a ideia de morar a bordo... e depois que ele se aposentou compraram um barco e se mudaram pra cá. O sonho foi interrompido precocemente pois pouco tempo depois ela descobriu um câncer e veio a falecer meses depois. Muito triste. Ouvir histórias como está nos faz lembrar de como a vida pode mudar rápido como o vento... e mais uma vez agradecemos a Deus por poder estar vivendo o que estamos vivendo hoje. 

Outro amigo que conhecemos foi um boina verde do exército (força especial - estilo John Rambo) e lutou todas as guerras dos últimos 30 anos. Esteve no Vietnã, Coreia, Iraque, Afeganistão, etc.... viveu muita coisa em tudo quanto é canto e hoje vive sossegado no seu veleiro de 45 pés. Forcei para ver se arrancava alguma estória pauleira dele mas ele se limitou a dizer que o "passado ficou para história e that's it!". 

Ficamos muito amigo de ambos... e no pouco tempo juntos já compartilhamos cervejas, barbecues e bons bate papos. Muito bacana.
 (Thank you guys for the time that we spent together... was a pleasure to met you!)

Mudando o assunto, Porto Rico, como você já deve saber, é parte dos EUA... e lembra muito uma cidade de interior americana com condomínios perfeitos de muro baixo e abarrotados de carrinhos de golf, mega lojas, grandes estradas e com a simpatia do povo latino. E o povo aqui gosta mesmo é de mega yacht (vimos poucos veleiros) - e nosso amado ITACARÉ até que ficou bem bonito amarrado no pier da Marina mas bem humilde ao lado de barcaças com o dobro do seu tamanho e iluminadas por todos os lados. Ele chegou a encolher de tão tímido.

Aproveitamos nosso tempo até aqui para fazer turismo no centro histórico (old San Juan), conhecemos também uma reserva florestal e matamos a saudade de um bom mergulho de cachoeira, e - claro - aproveitamos as mega lojas para provisionar o barco para os próximos meses. A visita a West Marine durou 8 horas... e me perdi entretido entre os corredores abarrotados de produtos náuticos de tudo quanto é marca e tipo. Dali o ITACARÉ ganhou uma âncora nova (Rocna de 25kg), ganhou também uma prancha de standup e mais um monte de miudezas. Comprei também um óculos e chapéu novo - a tripulação aqui tava se rebelando dizendo que meu chapéu antigo era de mendigo. Fazer o que.  Aos poucos nossa lista vem esvaziando e nosso bolso quase explodindo. Do Sams Club nos entupimos de rum, cerveja, vinhos, biscoitos, leite, carnes... compramos também várias garrafas de uma bebida vermelha chamada fireball, conhece? É destas pra ser tomar pura em "shots".. e que desce esquentando a garganta até o estômago. Se segura pois o bicho vai pegar! ..tudo já está preparado para recebermos amigos e familiares queridos que vem entre o ano novo e Janeiro.

Amanhã temos algumas manutenções pra fazer (pra variar! ...é como já falei antes, essa lista não acaba nunca!) e tudo dando certo, seguiremos viagem no dia seguinte para as Ilhas Virgens espanholas para "nos perdermos" pelos próximos 30 dias entre Viequez, Culebra e Culebrita.

Em breve mais notícias... e mais relatos de travessias. Acompanhem!

PS: Agora você pode acompanhar nossa posição em tempo real através do blog... clique na foto do "spot" no alto a direita. Este aparelho fica a bordo e emite um sinal via satélite e além de mostrar nossa posição serve também para chamar/apoiar o resgate em uma situação de emergência.



Ruas do centro antigo de San Juan (Old San Juan) 

Forte construido pelos espanhois a 450 anos atrás... muito bacana a visita


Motoca de um policial que estava parado em frente a
 West Marine... vendo a curiosidade das crianças ele convidou a molecada
para tirar umas fotos..

Dentro da West Marine procurando um chapéu novo pro pai.

Medalla é a cerveja local de Puerto Rico..  aproveitamos para
 provisionar o barco para os próximos 3 meses. #Itacareetilico!

Zé Cuca testando o peso da lagosta dentro de um restaurante

Parque Nacional El Yunque - nos lembrou muito
Serra do Mar - região entre Parati e Cunha, no nosso Brasil, 
visual bacana rodeado de mata atlântica







nossa vista do por do sol de dentro do Itacaré no pier da marina (Yacht Club Palmas Del Mar)

Churrasco de lagosta comemorando o aniversário
 dos US Marine Corps (fuzileiros navais americanos)







Nossa marina fica dentro de um mega condominio fechado com
 hoteis, campo de golf, casas, espetáculo! ..aproveitamos o domingo para colocar as bikes para fora do barco e
fomos desbravar o condominio. Gostou da minha chapeleta nova ?